quarta-feira, 28 de maio de 2008

Terceiro Encontro

Um editorial de inauguração.

Como um grito ecoando no deserto do Atacama.

Ou na espinha dorsal úmida pelas águas do Pacífico.

Inaugura-se este Grupo de Estudos de Cinema e América Latina -NUEZTRA AMÉRYKA, na grafia de Glauber.

Em nossas primeiras conversas com Solange Stecz, sobre a necessidade de criarmos em nosso meio - hablas español? - um espaço de diálogo e de produção de pensamento, desde este platô "o que é o cinema?" e suas escaramuças, do super 8 às luzes dançantes do audiovisual de gás neon, ela suscitou-nos, a que estudássemos "cinema latinoamericano". Ou teria sido, "o cinema novo?"

Ou então, foi o Alexandre Garcia quem estendeu sobre nós esta tenda com o desenho do mapa da América Latina nas cores vermelha, amarela, azul e branca?

Então, na proposta que se afirmou de formação um Grupo de Estudos de Cinema Latinoamericano escolhemos um livro como plataforma de embarque: A Ponte Clandestina, de José Carlos Avellar. Como diria o advogado Frederico, "Avellar é o nosso intercessor nessa questão"!

O homem que pede a passagem e marca os bilhetes. E nos aponta os lugares de di-versão, de pertubação e repouso, de embarque para outras paisagens, desafios, desfiladeiros:

Estação Fernando Birri, Estação Glauber Rocha [a mais longa, porque ponto de partida], Estação Fernando Solanas, Estação Julio Garcia Espinosa, Estação Jorge Sanjinés, Estação Tomás Gutiérrez Alea.

A partir de um Terceiro Encontro configurou-se o ato de presença em torno destas primeiras referências, balizas, ventos, faróis, ancoradouros, cartas de navegação: Birri, Glauber, Solanas, García Espinosa, Sanjinés, Alea.

Em nosso primeiro encontro definimos desde imediato que Glauber Rocha nos indicava a possibilidade de um nome: Nustra América - Grupo de Estudos de Cinema e América Latina.

(O nome, tirado do desejo e obsessão de Glauber em realizar um filme em regime de co-produção com outros países da América Latina e que se chamasse "América Nuestra (A Terra em Transe)", do qual restou apenas, depois da migração de personagens de um filme à outro, sonhos irrealizados, vestígios, fragmentos de roteiro, palavras rabiscadas, desenhos).

Neste primeiro encontro definimos que nossa viagem pelo continente latino, se iniciaria a partir do texto "Napoleão à cavalo". Era a noite de 18 de Abril de 2008. Salvo engano da confusa mente glauberiana.

No segundo encontro nos foi apresentado por Solange, a figura maciça de Paulo Emílio Salles Gomes: Cinema - Trajetória no Subdesenvolvimento, como proposta de leitura paralela.

Dividimos o "plano de leitura" em dois grupos de leitores mediadores, cada grupo responsável pela leitura de um dos textos, ou os dois, e acréscimos, tangências, margens.

E sobretudo, mantendo a referência de sinalização de filmes, numa lista que o pombo correio eletrônico colocou em circulação.

Logo tivemos como companheiro de viagem, Julio Cortázar, anunciado de passagem, ainda envolvido pela neblina, verdadeiramente clandestino com o seu relato de Nicarágua tão violentamente doce.

O Terceiro Encontro, com a sombra de Glauber, sombra de um vulcão incômodo ocupando o chão, teto e paredes onde estávamos, inaugurou de fato nossas primeiras expedições pela floresta de signos e afectos que nos atravessam o corpo, como perfumadas indumentárias indígenas, a que chamamos Nuestra América.

Ergueremos uma Ponte Clandestina?

Por Gilberto Manea.